sábado, 8 de outubro de 2011

Quilombo de Casca, em Mostardas/RS

Sou pernambucana, nascida em Recife. No meu primeiro ano de vida morei em Ribeirão, interior do Estado de Pernambuco; em Recife, durante 10 anos; em Jaboatão dos Guararapes, durante 19 anos; em Porto Alegre/RS, durante 6 anos; em Pelotas/RS, durante seis meses; em Macapá/AP, durante seis meses; em Recife, de volta, por 1 ano e meio, e em seguida retornarei ao Rio Grande do Sul, morando 1 ano em São Leopoldo, e 6 meses em Porto Alegre. De modo que cada vez mais me sinto cidadadã brasileira.

As mudanças na última década estão atreladas à necessidade de estudo e de trabalho. E como fui agraciada com  o chamado a ser educadora, tenho o sonho de contribuir com a educação de pessoas jovens e adultas (EJA), prioritariamente em comunidades quilombolas rurais.

Por essa razão, estou concluindo uma Especialização em EJA na Diversidade pela FURG e estou no 2o semestre em Licenciatura em Educação do Campo.

Pelas razões expostas, mesmo que não seja morada de um quilombo, mas sendo cidadã afrobrasileira, optei pesquisar e apresentar uma comunidade quilombola que pretendo visitar em breve, cujo Projeto Social  BB Educar Quilombola EJA foi desenvolvido.


"A comunidade quilombola de Casca está localizada no município de Mostardas, na região litorânea do Rio Grande do Sul, entre o oceano e a Lagoa dos Patos. De acordo com o Incra, em 2006, viviam no quilombo cerca de 85 famílias. Há, porém, um número significativo de integrantes do quilombo de Casca que deixaram o local de origem, passando a viver em municípios vizinhos ou em Porto Alegre. Dona Ilza, líder do quilombo de Casca nos explica as razões para a saída desses moradores:

Antigamente, muitos sobreviviam da agricultura, outros, na época, do arroz, iam para as granjas, na época de roça iam pras fazendas roçar, tinha plantação de cebola também praquela época, sabe? (...) Hoje em dia, a grande maioria das pessoas trabalha em fazendas, de granja ainda. Granjas vizinhas, fazendas vizinhas... Muitos tiveram que ir embora para Porto Alegre, pra outros lugares, porque não tem emprego. O grande problema é a falta de emprego.”
Os quilombolas de Casca lutam para recuperar as terras que lhes foram expropriadas e pela titulação coletiva. Com a titulação, esperam alcançar melhores condições de vida, sem a necessidade de suas famílias abandonarem o território em busca de emprego em outras cidades.
Casca foi a primeira comunidade a ser reconhecida como quilombo. A partir daí a gente vem brigando. É uma luta. O governo do presidente Fernando Henrique começou, depois no governo do presidente Lula e, naquela época, o governador do estado do Rio Grande do Sul Olívio Dutra, quando perdemos a oportunidade de termos titulado porque não tinha dinheiro... Aí depois nós ficamos esperando, né? A gente vai à Brasília, vai em tudo quanto é lugar. O que nós estamos esperando agora? Que o Incra termine de fazer o que tem que ser feito. É o que a gente espera” (Depoimento de Dona Ilza, líder da comunidade de Casca, novembro de 2007)." (Disponível em: http://www.cpisp.org.br/comunidades/html/i_brasil_rs.html)

O Projeto BB Educar é uma parceria entre a Fundação Banco do Brasil e o Instituto de Assessoria às Comunidades Remanescentes de Quilombos (IACOREQ). O IACOREQ[1][1], cujos objetivos são assessorar a organização política dos quilombolas e incentivar a articulação entre as comunidades do estado,
 nasceu da vontade política de militantes do movimento negro em contribuir com as comunidades rurais negras, favorecendo o processo de inclusão cidadã dessas comunidades. As ações do IACOREQ com os quilombolas gaúchos tiveram início em 1999, quando acompanhou o processo de identificação e reconhecimento da
comunidade quilombola de Casca, em Mostardas.

A equipe docente foi composta por nove docentes, sendo 6 professoras e 3 professores. O corpo discente do Curso contou com a participação de 130 estudantes, sendo 70% do sexo feminino e 30% do sexo masculino. Desse total, 98 estudantes concluíram o Curso, dentre os quais 69 foram alfabetizados; e 32 estudantes evadiram.

A carga horária de 64 horas, distribuídas em duas semanas. A carga horária mínima de funcionamento dos núcleos de alfabetização é de seis horas semanais, sendo distribuída em dois ou três dias de aula; sendo 8 meses a duração média do processo. As atividades docentes são desenvolvidas em caráter voluntário, consistindo na formação de núcleos de alfabetização.

O acompanhamento das turmas é realizado pela coordenação pedagógica e administrativa, indicada pela instituição parceira, que realiza visitas aos núcleos, promove encontros entre as e os docentes alfabetizadores para estudo e troca de experiências e mantém a Fundação Banco do Brasil informada sobre as ações desenvolvidas.

Há ainda o monitoramento técnico realizado por educadoras e educadores do BB Educar indicados pela Fundação que apóiam, orientam e promovem a formação continuada às e aos coordenadores e docentes.

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A formatura dos 98 estudantes concluintes do curso se deu no dia 20 de novembro de 2010, no Quilombo de Casca, em Mostardas. Na mesma ocasião na qual o Ministério do Desenvolvimento Agrário, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, e a Associação Comunitária Dona Quitéria promoveram o Ato de Titulação do Território da Comunidade Remanescente de Quilombo de Casca, com a entrega dos títulos de posse para as e os quilombolas.





[1][1] Mais informações no site “Comunidades Quilombolas do Estado do Rio Grande do Sul”, disponível em: <http://www.cpisp.org.br/comunidades/html/brasil/rs/rs_lutas_parceiros_iacoreq.html>.